30 Apr 2018
Mulheres com língua de fogo
A poesia portuguesa também se teceu no feminino e há imensas vozes femininas que elevaram a sua voz e presença através dos seus poemas e, palavra por palavra, foram vincando a posição da mulher no mundo. A poesia deveria ser sempre transversal ao género para se completar da melhor forma

A poesia portuguesa também se teceu no feminino e há imensas vozes femininas que elevaram a sua voz e presença através dos seus poemas e, palavra por palavra, foram vincando a posição da mulher no mundo. A poesia deveria ser sempre transversal ao género para se completar da melhor forma e a memória deveria sempre fazer invocar, simultaneamente, os nomes femininos e masculinos que esculpiram a cultura portuguesa. Para balançarmos um pouco mais o mundo da poesia portuguesa, escolhemos relembrar os grandes nomes das mulheres que se seguem:

1. Natália Correia

Nasceu nos Açores, em 1923, e deixou-nos uma obra vasta e rica. Foi uma mulher carismática com uma vida social muitíssimo intensa e também uma mulher de paixões, casando quatro vezes ao longo dos seus setenta anos.
Foi poetisa, romancista, ensaísta, jornalista, guionista, dramaturga, tradutora e editora, tendo sido sempre uma defensora acérrima dos direitos humanos, mais especificamente dos das mulheres. É, sem dúvida alguma, um nome incontornável da cultura portuguesa do século XX e teve uma forte ligação política, pois foi ativista social e deputada da Assembleia da República após o 25 de abril. Fez, igualmente, programas de televisão como Mátria que apresentava o lado matriarcal da sociedade portuguesa.
Marcou a diferença e gerou sempre imensa polémica através do seu caráter irreverente e audaz. Foi uma mulher com língua de fogo.

Créditos aqui

2. Maria Gabriella Llansol

É dito que Llansol, escritora portuguesa de ascendência espanhola, viveu à margem da literatura portuguesa. Nasceu em 1931 e esteve exilada na Bélgica durante 20 anos. Ao longo da sua vida raras foram as entrevistas que deu.
Para além da escrita, também se dedicou à tradução de autores como Rimbaud e Baudelaire.
É apontada por muitos como um dos grandes nomes mais inovadores e importantes da poesia e ficção portuguesa contemporânea e a sua escrita é apresentada como hermética, irrepetível e nada classificável, divulgando traços que marcam a diferença, como a presença de diferentes carateres tipográficos, espaços em branco, traços que dividem o texto e perguntas de retórica, a título de exemplo. Esta veio quebrar as fronteiras entre o que habitualmente designamos por ficção, poesia, ensaio, memórias. Não é uma autora fácil nem consensual, mas é um mistério fascinante em todos os sentidos.

Créditos aqui

3. Maria Teresa Horta

É uma escritora, jornalista e poetisa portuguesa nascida em Lisboa no ano de 1937. A poesia sempre lhe correu nas veias, sendo que é oriunda, pelo lado materno, de uma família da alta aristocracia portuguesa, tendo como antepassados a célebre poetisa Marquesa de Alorna sobre quem veio a escrever mais recentemente.
Pertenceu ao grupo Poesia 61 e colaborou em diversos jornais e revistas. Foi, igualmente, dirigente do ABC Cine-Clube e militante activa nos movimentos de emancipação feminina. Estreou-se com a escrita de poesia. Contudo, também se dedicou à ficção, posteriormente.
Em 1972 foi uma das autoras das polémicas Novas Cartas Portuguesas (juntamente com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, conhecidas como As Três Marias ), obra que suscitou escândalo, bem como um processo judicial pela natureza transgressora em relação à tradição patriarcal dominante e estabelecida. Esta publicação, fez com passasse a ser vista como expoente do feminismo em Portugal.

Créditos aqui - Fotografia por Gonçalo Villaverde / Global Imagens.

4. Adília Lopes

É uma das mais importantes poetisas da atualidade.
Adília Lopes, pseudónimo literário de Maria José da Silva Viana Fidalgo de Oliveira, nasceu em 1960. Começou por frequentar a licencitura em Física, tendo desistido e enveredado mais tarde por um nova, em Literatura e Linguística Portuguesa e Francesa. Começou por enviar poemas para a sua atual editora Assírio & Alvim e a sua primeira publicação foi a do Anuário de Poetas não Publicados pertencente à referida editora, em 1984. Apesar de lhe ter sido detetada uma psicose, tendo sido encarada pela mesma de uma forma natural e descomplexada, esta tomou-a, na verdade, como princípio da sua literatura, pelo que assim tem dado azo à escrita dos seus poemas.

Créditos aqui - Fotografia de Joana Dilão

5. Matilde Campilho

Matilde Campilho nasceu em Lisboa em 1982 e é uma das mais jovens poetisas portuguesas. Tirou, inicialmente, o curso de Literatura e depois seguiu rumo a Florença para estudar Pintura. Em 2010 foi viver para o Brasil, onde trabalhou como jornalista e redatora, e desde então mora entre o Rio de Janeiro e Lisboa. Publicou poemas nos jornais brasileiros A Folha de São Paulo e O Globo , assim como em algumas revistas online.
Jóquei é o seu primeiro livro e foi editado pela editora Tinta da China. A sua poesia é uma lufada de ar fresco no seio poético nacional pela forma doce, leve e rica com que se expressa.

Créditos aqui - Fotografia por WalterCraveiro / FLIP